quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

PENSANDO E ENTENDENDO O MAGISTÉRIO COMO FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Sabe-se que, a princípio,  o magistério  era exercido somente pelos homens. Eles  tinham acesso a escolaridade, se tornavam tutores e eram contratados pelas famílias ricas  para ensinar as crianças (meninos) em suas residências. Os padres e os jesuítas, homens da  igreja, tinham a missão de ensinar assuntos ligados à religiosidade. À mulher não era oferecida nenhuma oportunidade de estudar, cabendo a ela os cuidados com os filhos, com o lar, a obediência e subserviência total ao homem.
                Após a Revolução Francesa, os caminhos do magistério se abrem para a mulher. Contudo, a desvalorização da profissão tornou-se um fato, uma vez que ensinar era apenas uma continuidade da vocação maternal das mesmas. Não precisava ter boa formação, eram suficientes o domínio das   letras e de cálculos básicos.  
                Neste instante, passa a haver uma abertura para a mulher no mercado de trabalho, porém, as diferenças de gênero são notórias, marcando profundamente a vida profissional das mulheres. A remuneração era algo insignificante, uma vez que o pensamento era de que ensinar nada mais era do que um “dom” que deveria ser cultivado. Na simplicidade do dia a dia, a mulher professora dava suas aulas sem maiores complicações, em uma época em que ensinar o bê-á-bá, adicionar e subtrair eram suficientes.   Ao homem cabia o papel de sustentar o lar.
                                Com as transformações ocorridas no mundo moderno, houve uma reestruturação do sistema educacional. As exigências se tornaram maiores, exigindo formação e preparação do professor para ministrar as aulas, mais informação e dedicação ímpar. O número de alunos aumentou significativamente com as novas leis implantadas para garantir educação para todos. O que hoje se tornou um desafio: lidar com turmas superlotadas, muitas vezes sem a menor condição para atender a todos com qualidade.
                Na atualidade, ministrar aulas não se restringe somente a aplicar métodos e técnicas, exige interação, multiplicidade e desdobramento do profissional que atua diretamente com os alunos. Estes que estão cada dia mais aptos a opinar,  criticar, exigir inovações e por vez perturbar a ordem, ser intolerantes uns com os outros a ponto de exigir flexibilidade do professor, ampliando suas aulas para trabalhar valores como cidadania, ética, justiça, respeito, democracia... Ou seja, não basta somente dominar a técnica e metodologias ligadas ao magistério, sendo necessárias mudanças de atitudes e hábitos no cotidiano escolar para atender às diversidades existentes.  
                De umas três décadas para cá, as famílias se encontram cada vez mais ocupadas e preocupadas com o sustento e desejo de ampliar a renda familiar em busca de uma vida melhor, cabendo muitas vezes à escola o papel de não apenas ministrar conteúdos, mas também auxiliar na educação ampla das crianças. Os filhos chegando com uma bagagem maior de responsabilidade ou falta dela por inadequações geradas no seio das famílias em relação à educação e sustentação de valores transmitidos pelos pais, desde muito cedo.  
                Percorrendo todo este caminho, percebemos que o perfil do educador mudou muito. Os homens e mulheres estão ocupando o espaço na sala de aula, mas ainda é território muito mais abrangente da mulher, ela que continua a mercê de uma remuneração inferior, salários atrelados ao passado que nada mais era do que uma forma de manter a mulher presa, dominada e dependente do homem. Ela deveria se manter submissa, dando aulas e cuidando do lar e das crianças, longe dos “perigos do mundo”.
A  sociedade atual é competitiva, o capitalismo é selvagem, a mulher trabalha para ajudar no sustento do lar. Ela também está mais vaidosa, gosta de ser bonita e apresentável. A carreira do magistério não é promissora neste sentido, pois continua a mentalidade antiga e ultrapassada de que é um “dom” ensinar, não importando remunerar bem esta mulher que educa as crianças, isto numa sociedade cada vez mais complexa e em salas de aulas cada vez mais lotadas e cobranças cada vez mais acirradas do profissional para atuar em sala de aula. Os homens que atuam no magistério hoje,  estão perdidos, desvalorizados de forma igual à mulher e pelo visto,  muito há o que se fazer em conjunto, para buscar a tal valorização financeira e profissional que tanto sonhamos.
                Onde tudo isso vai chegar? Talvez daqui a uns dez a vinte anos a qualidade da educação venha a atingir uma situação  lastimável, muito mais do que se encontra hoje. Inversamente a todas as demandas que estão no papel para serem cumpridas, a exemplo o Plano Decenal da Educação com suas metas e objetivos para serem implantados, porém pouco ou nada visando a melhoria e valorização dos profissionais que atuam nas salas de aula. Inclusive o Piso Salarial aprovado que não sai do papel e foge como um ratinho dos gatinhos professores e professoras. Neste quesito, agradeceremos nosso governador e representantes parlamentares que não estão nem aí para esta classe a tanto oprimida e insignificante para os poderosos que só pensam  neles mesmos, representantes do povo que querem ganhar política zombando e humilhando uma classe trabalhadora. Não há investimentos, pois educação não elege ninguém.
                Terminando presente artigo registro aqui uma citação que muito me chamou a atenção em um trabalho universitário relativo à profissão do magistério: “É preciso que haja uma tentativa de escolha profissional por uma “paixão”, mas que esteja atrelada à luta por uma educação melhor e não à simples aceitação de uma condição imposta socialmente. A mulher não deve  deixar de ter amor pela profissão, porém um amor que não seja “cego” (...) investir na educação é lutar pelo possível, pela mudança dessa educação que cada vez mais quer cada um no seu “devido lugar”, estagnado e obediente.”
                Enfim, sonhar ou deixar morrer o sonho? Lutar ou não por melhorias de nossos ideais? Questões que nos afligem dia após dias e continuarão nos perturbando profundamente. Percebo falta de expectativa no olhar dos meus colegas professores e professoras. No olhar de quem começa pouco “brilho”, pouca expectativa de ascensão na carreira. Daqueles que já tem um chão percorrido, desânimo causado pelo sistema, pela falta de valor, falta de humanidade, falta de tudo.
                Pena, muita pena! Ser professor deveria ser uma profissão que chamasse a atenção de bons profissionais, daqueles que querem, sonham e podem se aperfeiçoar para formar pessoas cada vez mais  capazes de atuarem com competência, pensando e agindo com maior equilíbrio numa sociedade tão marcada pelas injustiças, opressões  e desigualdades sociais
                                                                                                            Laura M.Bastos
               
                

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